Produções cultu(r)ais no/do Atlântico Sul e seus processos de patrimonialização
(Versão provisória)

Projeto Pós-Afro-CEAO/UFBa e IRD-IMAF Paris

Esse projeto pretende desenvolver uma abordagem pluridisciplinar e crítica dos processos patrimoniais contemporâneos em curso no espaço Atlântico Sul. À semelhança de Luís Felipe de Alencastro, consideramos o Atlântico sul como um espaço de transações, trocas, circulações e experiências entre atores sociais cujos processos cognitivos por mais diferenciados que sejam, têm experimentado, sem exceção, o processo de colonização relacionado ao Trato escravista.

Considerando o patrimônio como um desafio para as políticas públicas que participam da construção dos imaginários nacionais, o projeto tratará de identificar os materiais antropológicos, históricos e arqueológicos que mais se aproximem aos interesses das populações locais. De fato, muitas vezes, as politicas patrimoniais dos países do “Sul” estão diretamente inspiradas pelas narrações coloniais, privilegiando o estabelecido em sua versão monumental, não obstante desde o inicio da década de 1990 a noção de patrimônio imaterial tenha emergido, vindo a ser reconhecida como tal pela UNESCO em 2001. Mas, também aqui, é muitas vezes a dimensão turística dos saberes e fazeres de certas tradições históricas que são destacadas, o que causa uma proliferação de objetos patrimoniais e uma concorrência feroz e, às vezes violenta, entre grupos sociais locais.

Privilegiando uma abordagem o mais próxima possível das concepções locais do patrimônio, a pesquisa empenhar-se-á em articular uma análise antropológica do contemporâneo a uma história de longa duração graças às ferramentas da história, da história da arte e da arqueologia, relacionalmente articuladas.

Uns 4 eixos poderiam ser destacados :

  1. património e regime de gouvernementalité (Foucault) governamentalidade
  2. Monumentos, espaços religiosos e processos patrimoniais
  3. Criação, Invenção e Recomposição de patrimónios (artes, artefactos, performance, etc.)
  4. Patrimônio religioso e criação artística

Eixo 1 – Patrimônio cultural e regime de governamentalidade

Osmundo Pinho, UFRB- Pôs-Afro 
Massacre na Paisagem: Territorialidade, Patrimônio e Violência no Recôncavo da Bahia 

Resumo : Nesta proposta buscamos retomar temas anteriores de investigação, ligados a processos de patrimonialização/monumentalização, como desenvolvidos em minha dissertação de mestrado e trabalhos posteriores, a preocupações mais recentes, ligadas aos efeitos subjetivos da violência entre jovens racializados e empobrecidos. Para tanto consideramos o contexto complexo e multireferenciado do Recôncavo da Bahia, como unidade de análise e lócus da pesquisa, mais especificamente a região compreendida pelas cidades vizinhas de Cachoeira e São Felix, e seus arredores, onde já temos desenvolvidos atividades de pesquisa correlatas. Diante disso, nessa proposta perguntaríamos: como poderíamos desenvolver um modelo de analise que leve em conta 1) tanto o investimento discursivo e material sobre a preservação (reinvenção) da memória colonial, notadamente no que se refere as formas culturais desenvolvidas pela população negra; 2) quanto os avassaladores números que demonstram a altíssima e crescente incidência da violência letal, com viés racializado, que aparece de modo conclusivo em inúmeras estatísticas, mas também representado e interpelado desde um ponto de vista subjetivo? Como a celebração da cultura negra, pode conviver com a despossessão e o violação crescentes e recorrente das pessoas negras?

Kadya Tall, IRD-IMAF

Resumo : Atenta a maneira com que as populações locais tanto no Benim como no Brasil respondam e atuam na área patrimonial para conseguir espaços e direitos no âmbito da sociedade civil, minha pesquisa se desenvolve de um lado no campo das relações de intercâmbio entre as ditas autoridades tradicionais no Benin e os líderes das religiões consideradas como neo-tradicionais, atuando nos processos patrimoniais e do outro lado, as relações entre comunidades indígenas e afro-brasileiras para consolidar reivindicações territoriais e sociais. Sendo antropóloga especializada na esfera religiosa, meu olhar esta atento as novas dinâmicas em torno de questões tais como cada grupo citado encara as politicas patrimoniais do Estado, como cada um deles apropriam-se ou recusam certos conceitos veiculados pelas organizações internacionais tais como o patrimônio imaterial, o desenvolvimento durável, a cultura, etc.
No Brasil mas especificamente, procuro entender como a figura do caboclo pode fazer uma ponte entre atores quilombolas e atores de aldeias indígenas, tendo em visto uma certa crispação identitária conjunta a uma proliferação de atos e exigências em termos patrimoniais, o que segundo F. Hartog é o signo do nosso regime histórico contemporâneo que ele qualifica de presentismo. i.e. um regime histórico que vive no presente para o presente.
Resumindo, esse projeto no Brasil esta orientado para as relações entre indígenas e afro-brasileiros na esfera ritual, e uma parceria com a prof. Rosário já foi iniciado por umas entrevistas com uma militante Tupinambá e duas mães de santo de nação Ketu sobre as relações entre indígenas e afro-brasileiros no campo religioso (a questão do caboclo nos cultos Afro-brasileiros, a questão do transe e a questão do sacrifício animal).
A pesquisa de Desirée Ramos Tozi se encaixa também neste eixo.

Eixo 2 : Monumentos, espaços religiosos e processos patrimoniais

Luís André Nascimento dos Santos

Resumo : No que concerne à pesquisa, se dedica a análise do mundo contemporâneo e das interações entre o Internacional e o Local, a influência das Organizações Internacionais tais como o Banco Mundial, a União Europeia e a UNESCO no desenvolvimento de políticas públicas na América Latina (Argentina, Brasil e México), seja na seara dos movimentos de universalização do acesso à justiça a partir de programas alternativos de gestão e solução de conflitos, seja nos programas de diplomacia dos Direitos Humanos, seja nos processos de internacionalização de políticas de reconhecimento e salvaguarda na seara do patrimônio cultural. 
Atualmente, no âmbito do CIAGS – Centro Interdisciplinar de Desenvolvimento e Gestão Social e do CEAO – Centro de Estudos Afro Orientais, tem se dedicado aos campos dos direitos humanos, da gestão social, da salvaguarda do patrimônio cultural afro brasileiro e seus lugares de memória, poder e redes de solidariedade. Participando de vários programas de pesquisa ligados a questão da memória afro-diaspórica, aos processos de tombamento de  terreiros de candomblé, questionando laudos antropológicos e mobilizações sociais dos interessados, sugerindo um programa de diagnóstico participativo a partir de um processo de escutas públicas, mediações e sistematizações de anseios comuns em relação a essa organização que historicamente abrigou e abriga a reflexão sobre o negro, a negritude e a nossa memória afro-diaspórica. 

Désirée Ramos Tozi 

Resumo : Creio que podemos articular redes de pesquisadores e detentores/lideranças desses patrimônios afro-diásporicos, repensando os instrumentos de diálogo dos estados nacionais e internacionais com os atores da salvaguarda do patrimônio cultural, ao mesmo tempo que debatendo formas de integração dos bens culturais cuja territorialidade exceda as fronteiras nacionais, como os bens  religiosos afro-diásporicos, tendo em vista processos de patrimonialização realizados pelos governos e UNESCO. Outro ponto que me interessa é compreender como articular outras epistemologias às categorias com que o campo do patrimônio cultural vem sendo entendido (de forma ampla) e preservado (no caso das políticas públicas).

Marcelo Cunha
Sub Projeto : Residências curatoriais no Museu Afro Brasileiro / UFBA

Resumo: O Museu Afro Brasileiro da Universidade Federal da Bahia, possui um importante acervo relativo à cultura material africana, com destaque para objetos relacionados a práticas tradicionais, com um quantitativo bastante significativo de objetos oriundos do Benin, que configuram a maior coleção relativa a um determinado território (cerca de 370 objetos), entre os demais territórios abordados no Museu. Esta importante coleção, que se relaciona à primeira metade do século XIX, ainda necessita de estudos aprofundados que possibilitem tanto a contextualização dos objetos no seu tempo de local de origem, quanto a atualização de sentidos e contextos dos mesmos, em relação ao momento em que vivemos, buscando-se entender permanências, transformações e re-apropriações contemporâneas do patrimônio cultural. É de igual importância a construção de discursos, no Museu, que visem a descolonização das abordagens tradicionalmente desenvolvidas no ocidente para o enfoque de elementos culturais africanos. Neste sentido, a residência proposta tem por objetivo a realização de residência curatorial, realizada em período de seis meses, com pesquisador(a) africano(a) de cultura material africana, com ênfase principal no Benin, com o objetivo de apresentar elementos que auxiliem em novas abordagens museológicas do acervo em questão.

Fabio Velame e sua equipe EtniCidades : Grupo de Estudos Étnico-Raciais em Arquitetura e Urbanismo. www.etnicidades.arq.ufba.br

Resumo: O tema de pesquisa refere-se aos processos diaspóricos entre o Benim e o Brasil de suas arquiteturas e espaços urbanos buscando as permanências, transformações, ressignificações e criações nos dois lados do Atlântico Sul. Busca desvelar as recomposições, invenções e recriações das arquiteturas africanas tradicionais e as arquiteturas afro-brasileiras enquanto monumentos, espaços religiosos, e espaços de convívio urbano. Assim serão abordados 05 (cinco) eixos de pesquisa: Arquiteturas de Templos e Palácios no Benim e no Brasil; Mercados do Benim e Feiras na Bahia; Arquitetura dos Agudás – Os Retornados; Arquitetura de Quilombos na Bahia e Vilas de Fugitivos africanos no Benim; Monumentos Negros nas Cidades da Bahia e do Benim.

Eixo 3 : Criação, Invenção e Recomposição de patrimónios

As pesquisas de Fábio Velame e de Kadya Tall encaixam-se também neste eixo.

Proposta da FACEMP, Santo Antônio de Jesus, Bahia

Coordenadora da Pesquisa : Laudicéia Soares de Oliveira, Doutora em sociologia pela UFBa, FFCH, Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher. Prof. da FACEMP.

Lívia Assis: Mestranda em Enfermagem, Prof. da FACEMP. 

Rosana Neiva: Doutoranda em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Social pela UCSAL. Graduada em Administração, Diretora acadêmica da FACEMP.

Valter Almeida: Mestre em Desenvolvimento Regional e Urbano pela Universidade Salvador. Graduado em Direito.

Existem, ao redor de Santo Antônio de Jesus, várias comunidades quilombolas e o nosso objetivo é o de desempenhar uma linha de pesquisa que englobe um estudo do patrimônio cultural em termos de saúde (saberes fitoterapêuticos, rituais afro-brasileiros, representações da doença e do infortúnio), um estudo do desempenho jurídico dessas comunidades para conseguir direitos a terra e um estudo das relações de gênero dentro dessas comunidades. Parte do Curriculum da Universidade, esta pesquisa terá a inclusão de alunos treinando e/ou aperfeiçoando na área de pesquisa de campo. O projeto é interdisciplinar e terá a colaboração de professores nas áreas da Enfermagem, História, Sociologia e Direito.

Eixo 4: Patrimônio religioso e criação artística

Infelizmente, essa temática bastante presente na equipe do Benim não atraiu ninguém até agora. Marcelo me falou de um artista plástico, professor da UFRB, me parece, Ayrton Heráclito, que viaja pelo mundo.  Todavia, se alguém acha interessante procurar ele, por favor me mande o seu contato.